domingo, 18 de março de 2012

O ABRAÇO DE ÁFRICA

                   
                                      

              Há cerca de três anos, comecei a ouvir, online e em directo, estações de rádio do Maputo. Uma dessas estações emissoras é a "Rádio Moçambique - Antena Nacional", de cuja grelha faz parte um programa de músicas moçambicanas pedidas e dedicadas, via telefónica, pelos ouvintes, no qual gosto de participar.

              Quando comecei a ser ouvinte desse programa, entre os funcionários que faziam a triagem dos ouvintes antes de estes entrarem no ar, contava-se Carmina Tete.

              Quando me recebeu pela primeira vez, deu-me as boas vindas com uma voz tão alegre, que logo me cativou. Conversámos durante uns breves instantes, até que ela me disse: "Vai entrar no ar agora."

              Na vez seguinte em que fui por ela acolhida, ouvi-a exclamar, entusiasmada, do lado de lá: "Olha! É ela!" E a espontaneidade, a jovialidade, a alegria e o afecto com que ela pronunciou estas palavras, fizeram-me gostar ainda mais dela.

              Nesse dia, adoptámos como saudação um grito de alegria emitido por cada uma de nós. E, desde então, cada vez que nos cumprimentávamos, um raio de luz partia do Maputo, trespassava Moçambique, afagando à sua passagem as cores, os cheiros e os sons da savana moçambicana, transportando-os até Portugal, ao mesmo tempo que um outro raio de luz partia deste cantinho da Europa, imbuído com todo o meu amor por Moçambique, trespassava África e chegava ao Maputo.  

               Entretanto, Carmina Tete reformou-se. Apesar de já não se encontrar na "Rádio Moçambique", continua a residir no Maputo, e nunca perdemos o contacto telefónico uma com a outra.

               Sempre que nos saudamos, continua a haver um raio de luz que, partindo do Maputo, trespassa Moçambique, afagando as cores, os cheiros e os sons da savana moçambicana, transportando-os consigo até Portugal, ao mesmo tempo que um outro raio de luz parte de Portugal, imbuído com todo o meu amor por Moçambique, trespassa África e chega ao Maputo. 

               E quando esses dois raios de luz se fundem, sentamo-nos as duas a conversar num terraço com vista para o Índico. O Índico que é dela, mas que ela autoriza que eu também chame meu, porque sabe que o Índico pertence a quem o traz no coração. E enquanto conversamos e saboreamos suculentas mangas, admiro as acácias rubras e os jacarandás lilases das avenidas do Maputo. E, mais ao longe, vislumbro uma nuvem dourada a pairar sobre Xai-Xai, a cidade-natal de Carmina, e, a uma distância muito maior, ainda consigo avistar uma nuvem cor-de-rosa a flutuar sobre Nampula, a cidade da minha meninice, a minha Nampula. Então,  as duas nuvens correm ao encontro uma da outra e fundem-se num abraço eterno: o abraço de África.

               Um dia, minha Querida Carmina, havemos de nos encontrar no Maputo. E, então, dois raios de luz trespassarão Moçambique do Maputo ao Rovuma, e afagarão à sua passagem, as cores, os cheiros e os sons da savana de Moçambique, após o que regressarão ao Maputo, vindo depositar nas nossas mãos o coração de África, mostrando ao mundo que a verdadeira amizade não conhece cores de pele nem está dividida por continentes. 


                                                                     Texto e Registo Fotográfico da Isabel Maria