domingo, 13 de novembro de 2011

MILAGRE DE NATAL

                                  

             Naquele Natal, a pequena Angélica tinha pedido uma prenda muito especial ao Menino Jesus: o milagre de voltar a estar com sua mãe que, uns meses antes, falecera vítima de doença prolongada. Queria que lhe fosse concedida a bênção de estar com sua mãe só mais um Natal, e afagar o rosto dela só mais uma vez, e outra ainda, e mais outra, e só mais uma...
             Veio-lhe à memória o sorriso doce da mãe, a prodigalizar-lhe todo o amor que brotava do seu coração gigante, o tom quente e o timbre aveludado de uma voz que semeava paz em seu redor, e a pele suave de umas mãos que lhe afagavam os caracois loiros quando ela se afundava num porto de abrigo ímpar: o colo de sua mãe.
              Uma vez mais, chorou convulsivamente, porque apesar dos seus 6 anos de idade, ela sabia que sua mãe havia partido numa manhã fria de Março para não mais voltar.
              E a chorar desesperadamente, a pequena Angélica adormeceu, enroscando-se tão profundamente no seu sono, como em outros dias se enroscara no colo de sua mãe.
              Do alto dos céus, descia agora uma melodia cantada por um coro de querubins. Pé ante pé, a mãe da pequena Angélica aproximou-se da cama da filha com o mesmo sorriso celestial de outrora, e, cobrindo-a com um manto de paz, pousou serenamente os lábios na face molhada dela, depositando nesse beijo o amor de toda uma vida que não lhe foi dado viver com a sua menina. Depois, pediu à pequena Angélica que não chorasse mais, porque ela iria estar presente naquele Natal e em todos os outros, como iria estar sempre presente em todos os momentos da vida de sua filha. Num frémito de amor e saudade, a pequena Angélica estendeu os bracitos roliços para envolver o pescoço de sua mãe e a apertar contra o peito. Foi então que das duas estrelinhas azuis que a mãe sempre trazia no olhar, se desprendeu uma copiosa chuva de estrelas que, congregando em seu redor, catadupas de cometas, acompanhou em cortejo o seu regresso ao céu. Mas antes de partir, a mãe da pequena Angélica depositou uma estrelinha na almofada da filha.
             Angélica acordou mergulhada numa neblina de tranquilidade espiritual. Ao ver a estrelinha que brilhava na almofada, acariciou-a e olhou para o Menino Jesus de terracota que sobre a mesinha de cabeceira, a observava com um sorriso de felicidade. Angélica devolveu-lhe o sorriso, e beijando-lhe a face rechonchuda, segredou-lhe: “Muito obrigada por este milagre de Natal!”.
             Quando naquela manhã de Natal, a pequena Angélica saíu do seu quarto e chegou à sala, foi com surpresa que o pai, ao dar-lhe dois beijos, notou no rosto da filha o renascer do sorriso de felicidade que desde uma manhã fria de Março tinha deixado de morar nela.
             A partir daquele dia, a pequena Angélica interiorizou uma certeza que lhe deu alento: do alto dos céus, sua mãe zelaria dia e noite pela sua existência, iluminando sempre o caminho da filha e lançando estrelinhas à sua passagem. Naquele Natal, a pequena Angélica ficou a saber que quando amamos verdadeiramente alguém, essa pessoa conquista o estatuto da imortalidade, vivendo para todo o sempre dentro de nós em jeito de rasto fulgurante que nos afaga a alma, fazendo da nossa vida uma permanente festa de Natal.

                                                                                                                Texto e fotografia: Isabel Maria.