domingo, 29 de maio de 2011


Meus Queridos Amigos:

Devido a problemas ainda não resolvidos, quer no meu blog, quer noutros blogs, entendo não existirem condições para fazer hoje o habitual registo de domingo.

Um abraço para todos.

domingo, 22 de maio de 2011

A ETERNIDADE NUM MOMENTO

                               
                              
                 Há momentos catapultados  para a eternidade.
               Ontem, estive no Serviço de Enfermagem de uma Clínica, a fim de receber  cuidados de saúde.
               A  cor da tez da senhora enfermeira que me ministrou tais cuidados, denunciava as suas origens africanas. Tive a intuíção de que seria natural de Moçambique, país que me é particularmente caro e onde, há 38 anos, vivi 9 meses na primeira cidade militar e terceira cidade administrativa do território: Nampula. Perguntei, então, à senhora enfermeira, onde tinha nascido. Ela confirmou a minha suspeita: Moçambique.
              Com um sorriso de orelha a orelha, exclamei:
              -Não me diga que é de Nampula!  
              Ela, rindo, disse-me que tinha efectivamente trabalhado no Hospital Civil de Nampula e que era natural da cidade de Vila Cabral (a actual Lichinga.) Transmiti-lhe que tinha estado em Nampula e que tinha muitas saudades de Moçambique. 
              Estivemos ali, alguns instantes, a conversar, aconchegadas pela alegria das recordações de Moçambique, tendo-me ela falado da família que lá deixou e que ajuda com a remessa de parte do seu vencimento mensal. Contou-me que a mãe vive em Vila Cabral e está cega.
              E eu fiquei a pensar que, de cada vez que o sol de Vila Cabral nasce, e de cada vez que as constelações do firmamento de Moçambique se acendem, o mundo das trevas desta Mãe se ilumina. Porque a bondade que li nos olhos da senhora enfermeira, só pode ter sido gerada por um espírito  de luz.
              Mas o que verdadeiramente iluminou aquele nosso encontro, foi o momento em que, após termos constatado que ambas trazíamos Moçambique no coração, ela me estendeu os braços, e nos encontrámos num abraço que, transpondo as fronteiras de Moçambique, se transformou num abraço do tamanho de África. Da minha África, da África dela, da nossa África. E aquilo que dissemos uma à outra sem o dizer, foi acompanhado por melodias de violino tocadas por querubins do Índico:
             - Ah, minha irmã de África!
             São estes momentos mágicos que ficam gravados a ferro e fogo na nossa lembrança, transformando-se em cometas que nos acompanham para todo o sempre.
            Há momentos catapultados para a eternidade.
                           Texto e foto da Isabel Maria
    

domingo, 15 de maio de 2011

Mulher de Córdova


                                                  
                       15 horas do dia 8 de Setembro de 2006. Aeroporto Internacional de Cointrin. No formigueiro de partidas e chegadas, uma mulher de Córdova, elegantemente vestida por Chanel, com a alma de luto, pisa solo da confederação helvética.
                       Amiga desde sempre do “Musée International de la Croix Rouge et du Croissant Rouge”, sediado em Genève, chega de Madrid, a fim de, no dia seguinte, participar numa conferência internacional no Museu sobre os direitos da mulher.
                       Desta vez, o desembarque em Genève constitui para si um suplício. A melancolia que, dia após dia, a vem consumindo, esfacela-lhe a alma neste primeiro reencontro com o cantão de Genève desde que o seu universo ruíu há um mês.

                        Após uma hora de viagem por estrada, chega a Vevey, essa famosa estância de férias da Riviera Suíça, onde Charlie Chaplin passou os últimos 25 anos da sua existência e onde foi sepultado em 1977. Foi aqui que ela, o pai, natural de Zurich, e a mãe, natural de Córdova, passaram muitas férias de verão e de Natal numa mansão adquirida pelo pai, que ela herdou há 5 anos.

                        Chegada à mansão, a mulher dirige-se ao seu quarto, abre o saco de viagem Luis Vuitton, e dele retira uma boneca de porcelana, também ela elegantemente vestida, que tem junto de si um cartão cor de rosa. As mãos da mulher pegam uma vez mais no cartão, cujas palavras dir-se-iam gastas de tantas vezes terem sido por si avidamente lidas. Deita-se sobre a cama e fixa as labaredas que ganham forma na lareira. Do centro das chamas, desprende-se um suave rosto de homem.

                        Sete meses atrás, numa conferência internacional sobre as fichas de recenseamento dos prisioneiros de guerra, a decorrer no “Musée International de la Croix Rouge et du Croissant Rouge", a mulher de Córdova conheceu um milanês que tinha sido convidado pela organização para proferir uma palestra sobre o tema.

                      Ela estava a assistir na primeira fila do auditório e ficou seduzida pela voz escaldante dele, pelo brilhantismo sereno com que dissertava, pela sua elegância sóbria e despretenciosa e pelo modo com que os olhos dele penetravam os dela de cada vez que terminava uma frase. O olhar dele tornara-se, durante toda a sua intervenção, um desconforto muito doce para a mulher de Córdova. Quando a palestra terminou, ela interveio, exaltando desde logo, a forma briosa com que ele abordara o tema que ali congregava todos, e, de seguida, colocou à cognição dele algumas questões, mais para corroborar as ideias que ele tão convincentemente tinha expendido e para garantir que a atenção dele estaria direccionada exclusivamente para o olhar dela durante alguns momentos, do que propriamente para obter, da parte dele, algum esclarecimento. Foi com surpresa que, enquanto dirigia a palavra àquele de Milão, sentiu as faces ruborizarem-se, a frequência cardíaca aumentar e a respiração entrar num ritmo acelerado. No decurso do "Verre de l´Amitié" que, findos os trabalhos, teve lugar no Museu, ele aproximou-se dela, e ela sentiu-se imediatamente acariciada pela ternura daquele olhar. O de Milão disse-lhe que os olhos dela irradiavam mais luz do que uma catadupa de astros, que desde a primeira hora, tinha vislumbrado uma doçura inigualável no seu olhar e que, quando visitasse Espanha, seriam os olhos dela que ele iria procurar em cada espanhola.

                        Quando na despedida, ele a beijou suavemente em cada face quente, incendiou-a por dentro e por fora, fazendo-a mergulhar num frémito de desejo do corpo dele, e esse incêndio que eclodiu nela, depressa se propagou primeiro ao corpo e depois à alma dele.

                      De repente, ele ficou paralisado a olhar para ela e, findos alguns instantes, disse-lhe que, afinal, não podia regressar já a Milão, pois   tinha uma vontade inabalável de repousar numa varanda com vista para a alma dela.

                      Juntos abandonaram, então, o Museu e viajaram até Vevey.

                     Aí, no chão do quarto dela, junto à lareira acesa, sobre um tapete de Arraiolos, e nevando copiosamente lá fora, o vulcão que havia no corpo de cada um deles entrou em erupção, e, depois de fundirem os dois corpos numa só vibração de alma, beberam taças do subtil "Dôle", produzido a partir de uma mistura das castas Gamay e Pinot Noir, que o de Milão sempre considerara o melhor dos vinhos tintos suíços.

                    Nos meses que se seguiram, tiraram fotografias no Quai Perdonnet, junto à estátua de Charlot, passearam e trocaram confidências ao longo da marginal noroeste do Lago Léman, entre Lausanne e Villeneuve, e muitos foram os beijos que passaram a valer uma eternidade, tendo como fundo o Château de Chillon, este a repousar serenamente num promontório rochoso na margem leste do Lago, e cercado por espessas muralhas e por três torreões semi-circulares.

                      Em Montreux, essa joia da Riviera suíça, assistiram juntos ao festival de jazz desse ano, em Julho.

                      Numa manhã do início de Agosto, o de Milão viajou sozinho de carro até Genève, a fim de comprar uma prenda para o aniversário dela, no dia seguinte. No regresso, o veículo automóvel ligeiro de passageiros conduzido pelo milanês, transitava regularmente na estrada que liga Montreux a Vevey, nesse mesmo sentido, dentro da sua mão-de-trânsito. Pela mesma estrada, mas em sentido contrário ao do de Milão, transitava, a uma velocidade de 120 Km/h, um veículo automóvel pesado de mercadorias. Tal velocidade, para além de superior ao limite máximo de velocidade legalmente permitido naquela estrada, para aquela categoria de veículos, era manifestamente inadequada às condições e ao traçado da via no local. Com efeito, a estrada descreve aí uma curva apertadada que se desenha para a direita, tendo em atenção o sentido de marcha que o pesado de mercadorias prosseguia - Vevey-Montreaux, e a estrada estava molhada, mercê da chuva impiedosa que, naquela tarde de Agosto, caía, sendo por isso precárias as condições de aderência do pesado ao asfalto. Mercê do excesso de velocidade com que seguia, o condutor do pesado não conseguiu dominar o veículo quando este descrevia a aludida curva, o que fez com que o mesmo fosse invadir a hemi-faixa de rodagem contrária, por onde transitava regularmente o ligeiro de passageiros conduzido pelo milanês. Por causa desta inusitada e inopinada invasão da sua hemi-faixa de rodagem, o milanês não conseguiu evitar o embate frontal do ligeiro de passageiros por si conduzido, no pesado de mercadorias. Como consequência directa e necessária do embate, resultaram no de Milão as lesões cranio-meningo-torácicas descritas no relatório de autópsia, que foram causa adequada da sua morte.

                     Quando a de Córdova foi fazer o reconhecimento do cadáver à morgue de Montreux, foi-lhe entregue uma caixa embrulhada em papel de seda florido, com um laço de veludo encarnado, encontrada dentro da viatura conduzida pelo milanês. Dentro da caixa, estava aondicionada uma boneca de porcelana elegantemente vestida, e, junto da boneca, repousava um cartão cor de rosa onde se lia "Para a mulher de Córdova, que é e será sempre o sol dos meus dias."

                    O crepitar da lareira torna-se agora brutalmente intenso, despertando a mulher do torpor das suas memórias. Lê o cartão uma vez mais, aperta a boneca contra o peito e desaba num pranto. A neurose depressiva que, aos poucos, a vem tragando, está a tomar-lhe a dianteira. Repara que a expressão doce do de Milão já não emerge das labaredas. Agarra na boneca, da qual não mais se tinha conseguido separar, e, levando-a consigo, sai do quarto em passo apressado. Dirige-se à adega da mansão, abre uma garrafa de “Dôle”, bebe 2/3 do seu conteúdo, corre para o volante do seu Mercedes CLK, coloca a boneca no colo e faz-se à estrada, "voando" até Genève, na direcção do "Musée International de la Croix Rouge et du Croissant Rouge".

                   Aí chegada, imobiliza a viatura e olha uma última vez para o Museu, onde, por detrás de uma janela do auditório iluminado, vislumbra o rosto do de Milão a sorrir-lhe e a acenar-lhe. De seguida, ele abre a janela, pela qual sai voando, e desaparece nos céus de Genève. Ela acelera fundo até junto do Lago Léman. Pára junto ao Horloge Fleurie, à entrada do Jardin Anglais, e sai do carro. Olha uma vez mais, o "Jet d´Eau", a fonte mais potente da Europa, que, de Maio a Setembro, desabrocha todos os dias, disparando um jacto de água a 140 m de altura, com um débito de 500 litrospor segundo, a uma velocidade de 200 km/h. Com passo indolente, sempre com a boneca ao colo, lê uma última vez o cartão cor de rosa: "Para a mulher de Córdova que é e será sempre o sol dos meus dias". Tira os sapatos de salto alto “Christian Dior” e mergulha nas águas frias do Léman, para não mais voltar.

                  No dia seguinte, quando o corpo da mulher é retirado das águas  juntamente com a boneca, o sol brilha por breves instantes, por entre a temperatura negativa do ar e a cor cinzenta do dia que nasce, de uma forma tão suavemente intensa, que afaga a alma de todos quantos, naquele momento, se encontram junto ao lago.
                                                                                         

                                                                              Texto e foto (Lago Léman - Genève) da Isabel Maria

domingo, 8 de maio de 2011

Homem de preto na Piazza del Duomo

                          
               Com proveniência da Piazza della Scala, Pilar atravessou a   Galleria Vittorio Emanuele II.

               Ao passar na área octogonal central, sob a cúpula de vidro com 47 metros de altura, recordou-se da primeira vez que ali tinha estado: tinha sido há muitos anos, com seus pais. Sua mãe, desde sempre versada em Heráldica, explicara-lhe, então, que o desenho no chão dessa área - uma cruz  branca sobre um fundo vermelho, era o símbolo heráldico da família Sabóia. “Em redor”, continuava sua mãe, “estão os brasões de quatro cidades italianas: o touro de Turim, a loba de Roma, o lírio de Florença e a cruz vermelha sobre fundo branco, de Milão.”

                Não conseguiu evitar sorrir ao recordar a convicção e a vaidade com que sua mãe, ali mesmo, lhe transmitira a ela e ao pai, estes seus conhecimentos.

                Continuou a atravessar a Galleria Vittorio Emanuele II, até entrar na Piazza del Duomo.

                Aqui, reparou num grupo de turistas que, a uns 40 metros de distância, apreciavam a estátua equestre do Rei Vittorio Emanuele II.

                De entre os elementos que compunham o grupo, destacava-se um homem alto, trajado de preto, com um chapéu da mesma cor, que estava parado e posicionado de costas para ela.

                Ficou petrificada. Seria ele? Recordou que ele sempre tinha tido o hábito de se vestir de preto e de usar um chapéu da mesma cor,  este adornado com uma pena de pavão colocada do lado direito, mas o que é certo, é que muitos homens têm o hábito de se vestir de preto, e o chapéu preto é usado, com alguma frequência, como complemento da indumentária masculina. Acresce que, no chapéu deste homem da Piazza del Duomo, não era visível qualquer pena de pavão, e ele sempre fizera questão de colocar este acessório no lado direito do chapéu.

              O homem que Pilar recordava agora, tinha vivido com ela uma paixão arrebatadora, mantida no segredo dos deuses durante seis meses. Quando a mulher dele descobriu tudo e perdeu os gémeos que esperava, ele, corroído pelos remorsos, passou a ser um marido muito mais presente e a dar todo o tipo de assistência à mulher, sobrando-lhe pouquíssimo tempo para Pilar. Esta, perante o desmoronar da relação com ele, forçou-se a si mesma a desistir de lutar por esse amor e abandonou Madrid, mudando-se para Barcelona.

              Uns meses depois de se encontrar a residir nesta cidade espanhola, soubera, por uma amiga, que, entretanto, ele se tinha divorciado, mas, violentando o ardor do seu próprio desejo, jamais o procurara.

              Seria ele que agora ali estava? Ele que, em seu dia, pertencera a Pilar e a quem Pilar também se entregara de corpo e alma? Depois dele, não existira mais ninguém e os que tinham existido antes dele, tinham-se esfumado na bruma do esquecimento.

              Pilar deu uns passos em frente, na direcção do homem de preto com chapéu da mesma cor, que continuava de costas, e imobilizou-se atrás dele.

              Pareceu-lhe que era efectivamente ele, mas, então, o que teria acontecido à pena de pavão?

             Avançou mais uns passos na direcção do homem, sem nunca tirar os olhos dele.

             Ele levou o cigarro à boca com uma prazenteira lentidão sensual, tal como o antigo amante dela sempre fizera. Envergava luvas pretas, não permitindo, assim, que Pilar eventualmente o reconhecesse pelas mãos.

             Por escassos instantes, o homem olhou para o seu lado direito.

             Pilar perscrutou o seu perfil, mas ele tinha óculos escuros tipo mascarilha, que lhe cobriam os olhos e parte do rosto, e ela não ficou certa de que fosse ele.

             Os turistas fotografavam e filmavam a Piazza del Duomo, a “grande máquina do Duomo”, como em “Os Noivos”, Alessandro Manzoni descreve a catedral de estilo gótico lombardo de Milão, a terceira maior igreja do mundo. Também a estátua equestre de Vittorio Emanuele II, as Galerias Vitorio Emanuel II e o Palazzo Reale estavam, naquele instante, a ser alvo de todas as objectivas, mas Pilar só tinha olhos para aquele homem de preto com chapéu da mesma cor, posicionado de costas para ela.  

               Seria ele? Se ao menos o ouvisse falar, poderia reconhecer a sua voz. Uma voz quente como uma tarde de Dezembro no Quénia.

               Recordou-se que ele tinha os olhos da cor do mel, a cútis morena e um sorriso envolvente como uma nuvem de rosas brancas.

               Deu mais uns passos na direcção do homem, ficando a escassos metros dele. Sentiu que, mesmo que não fosse ele, seria, seguramente, um homem, também ele, absolutamente irresistível.

              O homem deu uns passos em frente. Era o mesmo andar do seu amante de sempre. Seria mesmo ele?

              Estes segundos de espera estavam a transformar-se numa eternidade, com a incerteza e a dúvida a adensarem-se e a angústia a tomar corpo. Subitamente, Pilar sentiu que urgia certificar-se se era realmente ele.

              Estugando o passo, aproximou-se do homem de preto com chapéu da mesma cor, que continuava a caminhar de costas para ela. Ao passar por ele, abrandou o passo, ao mesmo tempo que, virando a cabeça, fixou o seu olhar no rosto dele, para poder verificar se era ele. O homem de preto com chapéu da mesma cor, olhou para ela, abrandou, também ele, o passo, após o que, sem nunca deixar de a olhar, parou. Pilar parou também. Ele tirou os óculos escuros que lhe escondiam os olhos e parte do rosto, e sorriu. Tinha os olhos da cor do mel, a cútis morena e um sorriso envolvente como uma nuvem de rosas brancas. Na lapela direita do casaco, tinha aplicada uma pena de pavão. O sorriso dele penetrou fundo nos olhos dela, perfumando-lhe a alma. Pilar também sorriu. Sorriu, como havia muito tempo não sorria. E soube que, a partir daquele momento, a Piazza del Duomo seria, para ela, a mais bela praça do mundo, destronando, assim, a Place de la Concorde.

                                                                                                                                 



Texto e fotografia da Isabel Maria
                                                                                                    

domingo, 1 de maio de 2011

Dia da Mãe

Porque hoje é dia da Mãe, deixo-vos um soneto da autoria da minha Mãe, uma senhora com 83 anos de idade, que, com a eterna doçura que transborda do seu coração do tamanho do mundo, e a sua inesgotável capacidade de sofrer com resignação, sempre iluminou o meu caminho e suavizou os escolhos que fui encontrando.


Se um dia acontecer…

Se um dia acontecer, ficas sozinho,
E a sensação atroz de abandonado
Não mais te largará, porque a teu lado
Não me verás seguindo o teu caminho.

Se um dia acontecer, o meu carinho
Procurarás, em vão, desesperado,
E viverás somente do passado,
Esperando o futuro mais mesquinho.

Se um dia acontecer, será a dor
Um foco luminoso, tentador,
E tu um pobre insecto deslumbrado.

Se um dia acontecer, minha alma errante
Andará pelo mundo soluçante
Por te saber sozinho e desgraçado.


Maria Helena de Albuquerque de Azevedo Coutinho Rosa Furtado Cabral, in "Mulheres em Prosa e Verso" - vol. 4 - 1ª edição - Hoje Edições - Casca - RS - Brasil 2009, pag. 64.